Pesquisas orientam modelos de leilões melhores e mais justos

outubro 24, 2020

Leilões melhores e mais justos são motivo de disputas acirradas, frustrações e demandas judiciais.

Em 2020, dois pesquisadores norte-americanos foram reconhecidos por suas importantes contribuições nesse tema, incluindo aplicações às telecomunicações e aeroportos.

Paul Milgrom, 72 anos, e Robert Wilson, 83 anos, professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, foram laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2020.

A Academia de Ciências da Suécia anunciou o prêmio em 12 de outubro. O Nobel de Economia 2020 é a 52ª premiação na categoria, concedido pelo Banco Central da Suécia desde 1969.

Os laureados vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas, equivalente a 6,42 milhões de reais. Devido à pandemia Covid-19 neste ano, não haverá cerimônia de entrega na Suécia.

Importância dos leilões

Leilões são muito importantes para negociação de bens, direitos e licenças no mercado, praticados por diversas empresas e governos no mundo.

As pesquisas de Paul Milgrom e Robert Wilson contribuíram para melhorar a teoria dos leilões em novos formatos que beneficiam vendedores, compradores e contribuintes.

A teoria elaborada por Paul Milgrom demonstra que vencedores de leilões pagam preços mais altos quando obtêm informações sobre os lances planejados por outros participantes. Robert Wilson, por sua vez, mostrou que participantes racionais em leilões tendem a dar lances menores com receio de pagar demais.

Leilões são baseados na hipótese de eficiência dos mercados competitivos. Os concorrentes, isoladamente, não têm poder para interferir na formação dos preços. Contudo, a informação sobre as disposições dos participantes de leilões influencia bastante a formação de preço no mercado.

O vencedor prefere pagar mais caro para evitar que os concorrentes possam igualar sua oferta, sobrestimando o preço. Essa “maldição do vencedor” foi analisada por Milgrom e Wilson.

Se os participantes percebem o mesmo valor do objeto leiloado, receiam oferecer lances mais agressivos. Dessa forma, forçam preços de negociação abaixo das expectativas do leiloeiro.

Milgrom demonstrou que quando a informação é percebida de forma assimétrica, fomenta guerras de preços para inibir a entrada de outros competidores.

Aplicações à pandemia do Coronavírus e comunicações 5G

Milgrom e Wilson analisaram o desenho do formato de leilões em situações críticas, incluindo a pandemia Covid-19. Respiradores e Equipamentos de Proteção Individual – EPIs.

Milgrom afirmou que as regras dos leilões são especialmente relevantes em tempos de crise. Todos os aspectos do mercado – competição, distribuição, resolução de problemas complexos – devem ser analisados, certificando-se de que estão à altura dos desafios.

A dupla também analisou como acelerar a implantação da tecnologia de comunicação sem fio de quinta geração, “5G”. O desafio na implantação do 5G é realocar o espectro limitado de frequências em outras bandas, atualmente indisponíveis para uso.

O leilão é essencial enquanto compensação que as pessoas estão dispostas a aceitar. “A competição entre fornecedores mantém os preços razoáveis e nos permite fazer a transição muito mais rápida do que o processo político, e de forma eficiente”, concluiu Wilson.

Robert Wilson e Paul Miligrom - Universidade de Stanford

Professores Robert Wilson (esq.) e Paul Milgrom (dir.) após anúncio do Prêmio Nobel de Economia de 2020 (crédito: Universidade de Stanford, 2020)

Paul Milgrom

Nasceu em 20 de abril de 1948 em Detroit. É bacharel em Matemática pela Universidade de Michigan, 1970. Concluiu mestrado em Estatística e doutorado em Negócios em Stanford em 1978 e 1979, respectivamente.

Ensinou na Northwestern e Yale, antes de lecionar em Stanford. Foi eleito para a Academia Americana de Artes e Ciências em 1992 e para a Academia Nacional de Ciências em 2006. Concluiu doutorado honorário em 2001 pela Stockholm School of Economics. Recebeu o Prêmio Nemmers de Economia de 2008.

Robert Wilson

Nasceu em 16 de maio de 1937, em Genebra, Nebraska. Tem bacharelado em Matemática. Concluiu o mestrado e doutorado em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard entre 1959 e 1963.

Wilson se juntou ao corpo docente da Stanford Graduate School of Business em 1964. Atuou como diretor do Centro de Conflitos e Negociação de Stanford em 1990 e do Instituto de Economia Teórica de 1993 a 1995. Foi nomeado para a Academia Nacional de Ciências em 1994.

Recebeu o prêmio de professor distinto do corpo docente da Stanford Business School em 2001 e nomeado membro distinto da American Economic Association em 2006.

Em 2018, Milgrom e Wilson foram agraciados com o Prêmio John J. Carty de 2018 pelo Avanço da Ciência.

Referência:

Universidade de Stanford. Stanford economists Paul Milgrom and Robert Wilson win the Nobel in economic sciences, publicado em 12 out. 2020.

(c) Editorial GEDAF Finanças e Empreendedores, 2020.

Nobel de Economia 2019 premiou três pesquisadores em redução da pobreza

abril 12, 2020

O Prêmio Nobel 2019 em Ciências Econômicas foi concedido aos pesquisadores Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer. Os laureados foram escolhidos por sua abordagem experimental inovadora para reduzir a pobreza global.

Esse reconhecimento internacional da Real Academia Sueca de Ciências é oficialmente designado por Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas, em Memória de Alfred Nobel.

Perfil dos laureados

Abhijit Banerjee, nascido em 1961, é natural de Mumbai, Índia. Concluiu o doutorado (PhD) em 1988 pela Universidade de Harvard, Cambridge, EUA. Atualmente, é professor internacional de Economia da Ford Foundation no Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, EUA.

Esther Duflo, nascida em 1972, é oriunda de Paris, França. Conquistou seu doutorado (PhD) em 1999 pelo Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, EUA. É professora de Redução à Pobreza e Economia de Desenvolvimento no Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, EUA.

Michael Robert Kremer, nascido em 1964, é natural de Nova Iorque, EUA. Obteve seu doutorado (PhD) em 1992 pela Universidade de Harvard, Cambridge, EUA. É professor de Sociedades em Desenvolvimento na Universidade de Harvard, Cambridge, EUA.

Laureados do Prêmio Nobel de Economia 2019: Michael Kremer, Esther Duflo and Abhijit Banerjee (Epa/Jonas Ekstromer)

Laureados do Prêmio Nobel de Economia 2019: Michael Kremer, Esther Duflo e Abhijit Banerjee (Epa/Jonas Ekstromer)

Pesquisas econômicas direcionadas ao combate da pobreza global

A pesquisa realizada pelos laureados melhorou consideravelmente a capacidade de combater a pobreza global. Em apenas duas décadas, sua nova abordagem baseada em experimentos transformou a economia do desenvolvimento, agora convertida em campo de pesquisa florescente.

Apesar das recentes melhorias das condições, uma das questões mais urgentes da humanidade é a redução da pobreza global, em todas as suas formas. Mais de 700 milhões de pessoas ainda sobrevivem com rendimentos extremamente baixos. Todos os anos, cerca de cinco milhões de crianças com menos de cinco anos morrem de doenças que poderiam ter sido prevenidas ou curadas com tratamentos baratos. Metade das crianças do mundo  a escola sem habilidades básicas de alfabetização e matemática.

Os laureados apresentaram nova abordagem para obter respostas confiáveis sobre as melhores maneiras de combater a pobreza global. Em resumo, a metodologia por eles desenvolvida consiste em dividir o problema em perguntas menores e mais fáceis de serem analisadas através de experimentação.

Exemplo disso são as intervenções mais eficazes para melhorar o desempenho nos testes educacionais e a saúde infantil. Eles mostraram que perguntas menores e mais precisas geralmente são melhor respondidas por experimentos cuidadosamente projetados com as pessoas mais afetadas. Essas perguntas estão relacionadas à solução do problema geral.

Em meados da década de 90, Michael Kremer e seus colegas demonstraram o poder dessa abordagem usando experimentos de campo para testar a sequência de intervenções que poderiam melhorar os resultados das escolas no oeste do Quênia.

Abhijit Banerjee e Esther Duflo, em parceria com Michael Kremer, realizaram estudos semelhantes sobre outras questões em outros países. Os métodos de pesquisa experimental desses pesquisadores são agora a principal referência para a economia do desenvolvimento.

Aplicação à Educação

Nas pesquisas econômicas sobre Educação, os resultados demonstraram, por exemplo, que distribuir mais livros didáticos por aluno não melhora a pontuação média das turmas nos testes, mas melhorou as pontuações dos alunos mais capazes. Outra constatação, fornecer flipcharts às escolas não teve efeito na melhoria do aprendizado dos alunos. As duas intervenções citadas reduziram o absenteísmo escolar, mas não melhoraram os resultados dos testes para o conjunto de alunos.

Na teoria, o incentivo pode levar os professores a estimular o aprendizado a longo prazo ou, alternativamente, a ensinar visando a melhorar os resultados dos testes. Na prática, o último efeito foi comprovado. Os professores aumentaram seus esforços na preparação dos testes, o que elevou as pontuações dos exames vinculados aos incentivos, mas não afetou as pontuações em exames não relacionados aos mesmos incentivos.

Aplicação à Saúde

A pesquisa econômica aplicada à Saúde foi baseada na assistência por meio clínicas móveis de vacinação (acampamentos), onde a equipe de atendimento estava sempre presente no local. Foram planejadas amostras reduzidas aleatórias desses campos, nos quais pequenos incentivos foram oferecidos às famílias que levaram seus filhos a serem vacinados. As taxas de vacinação atingiram 39% nas comunidades atendidas por “acampamentos com incentivos” comparado a 18% nas comunidades sem incentivos e 6% nas comunidades de controle do experimento.

No entanto, os acampamentos regulares foram bem sucedidos em elevar o número de crianças que receberam ao menos uma injeção de vacina, alcançando nível comparável aos acampamentos com incentivos, respectivamente, em 78 e 74%. Os incentivos foram particularmente eficazes em atrair mais famílias para a vacinação.

Contudo, mesmo distribuindo lembretes dos benefícios e pequenas recompensas não financeiras (1 kg de lentilhas no valor aproximado de um dólar) para cada vacinação, 61% das famílias nas regiões dos acampamentos não tiveram todos os seus filhos vacinados.

Importância de repensar a pobreza e desigualdade global

Economia é, essencialmente, o estudo de decisões frente à escassez de recursos. Especialmente para os mais pobres essas questões são cruciais para sua sobrevivência.

O Banco Mundial considera extremamente pobres aqueles que vivem com menos de 1 dólar (5,10 reais) por dia. Mas como é possível viver com menos do que essa quantia?

No livro Poor Economics: A Radical Rethinking of the Way to Fight Global Poverty (“Economias pobres: um repensar radical da forma de combater a pobreza global”, em livre tradução), os autores Banerjee e Duflo abordaram a pobreza sob a perspectiva radicalmente diferente: aproximando-se da realidade e complexidade da sobrevivência com menos de um dólar por dia.

Nesta publicação, os autores respondem a diversas questões sobre a vida econômica dos mais pobres que enfrentam a extrema escassez, fazendo renúncias e superando desafios diariamente. Por exemplo, as famílias pobres consideram desperdício gastar com educação para todos os filhos, e preferem concentrar o gasto em apenas um deles, geralmente aquele do sexo masculino.

Explicar aos pais que os benefícios da educação são transformadores no longo prazo para todos é muito mais eficaz do que construir mais escolas.

O livro foi publicado em 2012 pela editora PublicAffairs nos EUA, e ainda não foi traduzido para o português. Contudo, estão disponíveis edições nos idiomas inglês e espanhol, confira abaixo.


Fonte: Nobel Academy e Amazon do Brasil, acesso em 12.04.2020.