Pesquisa do Ipea revela que automação pode eliminar 57% dos empregos formais no Brasil

dezembro 22, 2019

O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – Ipea divulgou estudo sobre os impactos das tecnologias de automação na redução de tarefas realizadas por humanos e eliminação de empregos formais no Brasil nos próximos cinco anos.

As novas tecnologias digitais – inteligência artificial, computação em nuvem e a internet das coisas – vão alterar profundamente a produção, a distribuição e a comercialização de produtos e serviços. Essa revolução trará novas oportunidades de negócios, emprego e renda. Contudo, há o risco de eliminação ou transformação de muitos postos de trabalho.

O estudo “Propensão à automação das tarefas ocupacionais no Brasil” foi elaborado por Luis Claudio Kubota e Aguinaldo Nogueira Maciente, técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea. O artigo correspondente foi publicado na edição nº 61 do boletim Radar – Tecnologia, Produção e Comércio Exterior.

Os autores consideraram tecnologias já consolidadas e passíveis de implantação do ponto de vista regulatório no prazo de cinco anos. No longo prazo, a maioria das tarefas está sujeita à automação.

Metodologia

Os pesquisadores analisaram a base de dados com 19 mil tarefas necessárias à realização de diversas ocupações formais catalogadas na Occupational Information Network (O*NET), desenvolvida sob o patrocínio do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, e na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia (ME) do Brasil.

Foi adotada a abordagem inovadora de classificar as ocupações com maior risco de automação conforme a importância (dada pela frequência) e a relevância das tarefas desempenhadas em cada ocupação.

Os pesquisadores utilizaram atributos matemáticos binários 0 ou 1 (variáveis dummy) para avaliar as tarefas relacionadas às diversas ocupações catalogadas.

A tarefa seria classificada automatizável, assumindo valor 1. Essa variável dummy foi multiplicada pela importância (escala de 1 a 5) e pela relevância (escala de 0 a 100) da tarefa, conforme a base de dados O*NET. O resultado gerou o escore variando de 0 a 500 para cada tarefa.

Em seguida, para cada ocupação, a soma dos escores multiplicados pela dummy de automação foi dividida pela soma dos escores sem multiplicação pela dummy. Isso gera valores entre 0 e 1, indicando o percentual das tarefas automatizáveis de cada ocupação, já ponderado pela importância e pela relevância de cada tarefa.

Conclusões

No Brasil, o emprego é ainda dominado por ocupações com percentual alto ou médio-alto de tarefas automatizáveis nos próximos anos (56,6% do emprego civil formal em 2017).

As atividades com empregos mais vulneráveis à automação se concentram na indústria têxtil e de vestuário, na indústria alimentícia, na agropecuária, na indústria da madeira, na fabricação de móveis e na metalurgia.

No setor de serviços, o impacto da automação será maior para atividades de contabilidade, consultoria e auditoria contábil; serviços de limpeza; obras de acabamento; atividades paisagísticas; e armazenamento, carga e descarga.

As ocupações com maior percentual de tarefas classificadas como automatizáveis estão relacionadas à:

  • operação de veículos e máquinas do setor de mineração (operador de shuttle car, destroçador de pedra, operador de equipamentos de preparação de areia);
  • metalurgia (moldador e macheiro, à mão e à máquina);
  • instalações (instalador de materiais isolantes e acústicos, revestidor de interiores);
  • transportes (operador de empilhadeira e caminhão);
  • construção (armador de estrutura de concreto, montador e preparador de estruturas metálicas);
  • indústria madeireira (prensista de aglomerados e compensados); e
  • atividade de embaladores, à mão.

Entre as ocupações classificadas como não automatizáveis, considerando-se aquelas com maior participação no emprego em 2017, destacam-se:

  • dirigentes do serviço público federal;
  • analistas de recursos humanos;
  • coordenadores pedagógicos;
  • professores de ensino superior, especialmente nas áreas de didática, línguas e literatura;
  • gerentes de produção e operações;
  • comerciantes varejistas;
  • advogados;
  • recreadores;
  • supervisores de ensino; e
  • membros superiores do Poder Executivo.

Os pesquisadores do Ipea alertam que o Brasil deve se preparar não apenas para a continuidade da substituição de algumas ocupações já em declínio, mas também para o início do declínio de ocupações que foram importantes para o crescimento do emprego nos últimos quinze anos.

A conjuntura desfavorável e os desafios estruturais impostos pelas novas tecnologias digitais colocam a geração de emprego no centro do atual debate econômico.


Fonte: 61º Boletim Radar Tecnologia, Produção e Comércio Exterior. Brasília: Ipea, 2009. Acesso em 22 dez. 2019. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/191213_radar_61.pdf>.

Profissões mais respeitadas em 35 países e o novo mercado de trabalho

março 20, 2019

Pesquisa realizada em 2018 pela organização global de educação Varkey Foundation examinou as opiniões em 35 países sobre 14 profissões típicas:

  • Médico(a)
  • Advogado(a)
  • Engenheiro(a)
  • Diretor(a) de Escola
  • Policial
  • Enfermeiro(a)
  • Contador(a)
  • Gerente do Governo Local
  • Consultor(a) de Gestão
  • Professor(a) do Ensino Secundário
  • Professor(a) do Ensino Primário
  • Web Designer
  • Assistente Social
  • Bibliotecário(a)

As ocupações foram deliberadamente escolhidas porque são bastante semelhantes em termos de qualificação profissional ou equivalente, demandando formação universitária e estudos de pós-graduação. As ocupações foram também cuidadosamente selecionadas em relação às diferenças de atuação nos setores privado e público.

Em cada país, 1000 (mil) pessoas do público em geral foram solicitadas a classificar a lista preparada com as profissões típicas, ordenando-as conforme o respeito atribuído por critérios pessoais. Todos aqueles que participaram da pesquisa tiveram que ordenar a lista de profissões do primeiro ao décimo-quarto lugar, sem exceções.

Classificação Geral das Profissões

A partir da classificação dos entrevistados sobre a variedade de profissões, foi possível extrair a classificação relativa geral precisa de ocupações. A média do score (pontuação) por ocupação, escala 0 a 14, para as amostras de todos os países é exibida na Figura 1. Scores mais altos estão na parte inferior do gráfico, enquanto os mais baixos estão na parte superior.

Nota Média do Score das Profissões (Vark Foundation, 2018), gráfico elaborado pelo GEDAF
Figura 1 – Nota Média do Score das Profissões (Vark Foundation, 2018)

Conforme a Figura 1, os médicos lideraram a lista global das profissões mais respeitadas, seguidos por advogados (2º) e engenheiros (3º). Os diretores de escola (4º) também obtiveram boa aprovação, alcançando menor reconhecimento do que as três primeiras ocupações.

Os professores do ensino primário (11º) e do ensino secundário (10º) ficaram posicionados depois dos policiais (5º), enfermeiros (6º), contadores (7º), gerentes do governo local (8º) e consultores administrativos (9º). Os bibliotecários obtiveram a menor pontuação (14º), abaixo da pontuação dos web designers (12º) e assistentes sociais (13º).

Novo Mercado de Trabalho

No futuro próximo, quando robôs e algoritmos realizarem muitos trabalhos feitos anteriormente por humanos, a lista da Varkey Foundation poderá ser bastante diferente.

Os avanços tecnológicos da Quarta Revolução Industrial estão transformando a maneira como as pessoas trabalham e os trabalhos que executam.

Até recentemente, a automação consistia principalmente em replicar tarefas não especializadas ou repetitivas. Na atualidade, os avanços em robótica e inteligência artificial (IA) possibilitaram que as máquinas pudessem “pensar” mais como seres humanos, trazendo a automação para profissões como medicina e direito.

Por exemplo, há algoritmos desenvolvidos para executar tarefas legais básicas de forma mais eficiente e muito mais rápida do que advogados altamente treinados. E, à medida que os algoritmos se tornam mais sofisticados, serão capazes de analisar aspectos mais complexos de tarefas executadas por advogados e médicos.

E se, no futuro, médicos ou advogados fossem robôs, as pessoas ainda teriam tanto respeito por áreas como a medicina e a advocacia?

Durante a Primeira Revolução Industrial, havia receio de desemprego em massa devido à produção por máquinas que faziam tarefas exclusivas de humanos. Da mesma forma, a chegada da Quarta Revolução Industrial provocou temores de que os robôs vão eliminar milhões de empregos.

O Relatório sobre o Futuro dos Empregos do Fórum Econômico Mundial de 2018 afirma que quase 50% das empresas pesquisadas acredita que a automação reduzirá sua força de trabalho em tempo integral até 2022.

Mas o relatório também observa que, embora a automação possa deslocar 75 milhões de empregos, 133 milhões novos postos de trabalho poderiam surgir, com funções sob demanda para incluir analistas de dados e cientistas, desenvolvedores de software e aplicativos.

O relatório também afirma que 38% das empresas pesquisadas esperam aumentar sua força de trabalho em novas funções que ofereçam maior produtividade. E mais de 25% dos entrevistados acredita que a automação criará novas funções para seus negócios.

O avanço tecnológico exigirá especialistas em IA e aprendizado de máquina, big data, automação de processos, segurança de informações e robótica, e pessoas com conhecimento sobre blockchain.

Mas no mercado de trabalho futuro, haverá também demanda por toque pessoal, haverá crescimento previsto em funções que alavancam habilidades distintamente “humanas”.


Fontes:

Johnny Wood. World Economic Forum. These are the world’s most respected professions. Acesso em 20/03/2019.

Varkey Foundation. Global Teacher Index 2018. Acesso em 20/03/2019.